Quando valer a verdade e a vida


Quando os homens andarem de mãos dadas,
e trabalharem todos na mesma lida,
na busca das manhãs ensolaradas...

Quando os homens colocarem no seu dia,
mesmo o mais triste e cinzento,
um segundo que seja de alegria,
e dele fizerem seu melhor momento...

Quando os homens abrirem suas janelas,
para olharem muito além dos seus quintais,
e semearem sementes das flores mais belas,
recolhendo suas sombras dos varais...

Quando os homens acreditarem na humanidade,
fazendo-se árvore que não se verga ao vento,
ou sendo campo que mesmo sob tempestade,
ondula e renasce germinando alimento...

Quando os homens estiverem livres do jugo
da mentira e da cobiça dos delirantes
e pousarem poesia na mão do seu verdugo,
rasgando a consciência dos arrogantes...

Quando os homens souberem amar,
fazendo desse amor o fiel da balança,
e aprenderem na vida a engatinhar,
com a ternura e pureza de uma criança...

Quando os homens caminharem na tarde,
cantando o anoitecer pra estrelar o infinito,
deixarem que a festa do dia chegue em alarde,
na boca do sol soprando seu clarão bendito...


Quando os homens suprimirem do dicionário
o lodo da palavra que jorra da boca da ganância
e fizerem do humano grito um relicário
fas almas que se amam sem medir distância...

A partir deste momento, abençoado instante,
quando os homens, qual solo fértil que se refaz,
plantarem em si essa aurora acariciante
deles, qual semente híbrida, brotará a paz...


Feliz Páscoa!





Texto de Lizete Abrahão. Recebi de "Adalcinda" em 2004.






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Última alteração: 3 abr 2010