Declaração de amor às mulheres


Se uma memória restou
das festinhas
e reuniões de familiares da minha infância,
foi a divisão sexual entre os convidados:
mulheres de um lado, homens do outro.

Não sei se hoje isso ainda ocorre.

Sou antisocial
ao ponto de não freqüentar qualquer evento
com mais de 4 pessoas,
o que não me credencia a emitir juízo.

Mas era assim que a coisa rolava naqueles tempos.

Tive uma infância feliz:
sempre fui considerado esquisito, estranho e solitário,
o que me permitia ficar quieto observando a paisagem.

Bom, rapidinho verifiquei que o apartheid sexual
ia muito além das diferenças anatômicas.

A fronteira era determinada pelos pontos de vista,
atitude e prioridades.

Explico: no "corner" masculino
mperava o embate das comparações e disputas.

Meu carro é mais potente, minha TV é mais moderna,
meu salário é maior, a vista do meu apartamento é melhor,
o meu time é mais forte, eu dou 3 por noite
e outras cascatas típicas da macheza latina.

Já no "corner" oposto, respirava-se outro ar.

As opiniões eram quase sempre ligadas ao sentir.

Falava-se de sentimentos, frustrações e recalques
com uma falta de cerimônia que me deliciava.

Os maridos preferiam classificar
aquele ti-ti-ti como fofoca.

Discordo.

Destas reminiscências infantis
veio a minha total e irrestrita paixão pelas mulheres.
Constatem, é fácil.

Enquanto o homem vem ao mundo completamente cru,
freqüentando e levando bomba no be-a-bá da vida,
as mulheres já chegam na metade do segundo grau.

Qualquer menina de 2 ou 3 anos
já tem preocupações de ordem prática.

Ela brinca de casinha
e aprende a dar um pouco de ordem nas coisas.

Ela pede uma bonequinha que chama de filha
e da qual cuida, instintivamente, como qualquer mãe veterana.

Ela fala em namoro,
mesmo sem ter uma idéia muito clara do que vem a ser isso.

Em outras palavras, ela já chega sabendo.
E o que não sabe, intui.

Já com os homens a história é outra.

Você já viu um menino dessa idade
brincando de executivo?

Já ouviu falar de algum moleque
fingindo ir ao banco pagar as contas?

Já presenciou um bando de meninos
fingindo estar preocupados
com a entrega da declaração do Imposto de Renda?

Não, nunca viram e nem verão.

Porque o homem nasce, vive e morre uma existência juvenil.

O que varia ao longo da vida é o preço dos brinquedos.

E aí reside a maior diferença:
o que para as meninas é treino para a vida,
para os meninos é fantasia, é competição.

E fuga.
Falo sem o menor pudor.

Sou assim.
Todo homem é assim.

Em relação ao relacionamento homem/mulher,
sempre me considerei um privilegiado.

Sempre consegui enxergar a beleza física feminina mesmo onde,
segundo os critérios estéticos vigentes, ela inexistia.

Porque toda mulher é linda.

Se não no todo, pelo menos em algum detalhe.

E só saber olhar. Todas têm sua graça.

E, embora contaminado pela irreversível herança genética,
que me faz idolatrar os ícones de cafajestismo,
sempre me apaixonei perdidamente
por todas as incautas que se aproximaram de mim.

Incautas não por serem ingênuas,
mas por acreditarem.

Porque toda mulher acredita firmemete
na possibilidade do homem ideal.

E esse é o seu único defeito.



Feliz Dia Internacional da mulher!




Texto de Sérgio Gonçalves,
redator da Loducca, publicado
no jornal da agência. Recebi de "Fr@nk".






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Última alteração: 8 mar 2009