Fico com teu sorriso de menino, Cafu,
quando fizeste
pódio do
pedestal que
sustentava a Copa e lá bem alto, após declarar
amor
à Regina, tua mulher,
disseste ao mundo o que é o Brasil.
Aquele sorriso, Cafu, trouxe a criança pobre do Brasil, o
menino
do interior,
atiradeira no bolso de trás, a brincadeira liberta e solta.
Ele traduzia ingenuidade, timidez, pureza
de
coração,
nenhuma arrogância
e uma categoria um piso acima da alegria: a felicidade.
Pouca gente sabe rir, Cafu. Pouca.
Já reparaste que há
risos que não riem e
sorrisos
que dissimulam?
Quando o riso é bonito, sem
superioridade nem
agressividade,
é porque a pessoa também o é.
Só os bons
comovem pelo sorriso.
Mas naquele teu sorriso infantil e brando, feliz e simples, estava,
também,
a vitória do homem mestiço do Brasil, argamassa
da
brasilidade,
tantas vezes discriminado mas nem por isso vencido ou ressentido.
Estavam todos os meninos mulatos e pardos
deste país,
estavam os branquinhos também
e até os curumins, meninos indígenas que desde
cedo
aprendem a amargura de viver fora de seu universo cultural.
De todas as comemorações de domingo, cheias de
verde e
tropicalismo,
ficou no espírito deste velho cronista,
que desde 1950 acompanha as Copas do Mundo,
o teu sorriso, Cafu.
Que Deus o abençoe!
A inocência morava nele, e com
ela,
a simplicidade, a operosidade do trabalhador brasileiro,
mal pago e construtor do País,
a felicidade das consciências livres do medo,
a pertinácia do povo e algo fundamental:
a confiança no futuro do Brasil.
No teu sorriso, Cafu, riram todos os que sonham;
os que fazem da luta honesta as suas vidas;
os que vêm de dentro do Brasil para tentar a vida;
os humildes elevados à condição de
soberanos de
algo,
um esporte, uma arte, a política, a ciência, o
trabalho e
até o carnaval.
No teu sorriso estavam todas as tuas corridas pelo flanco e pelo
centro,
tua indormida vigilância,
a molecada linda lá da Vila Irene e de todas as Vilas Irenes
que existem como moradias honradas e pobres espalhadas pelo Brasil.
Estavam a alegria de teu futebol leve
e a representação do que este País tem
de melhor:
o seu povo.
Sorriso inocente e bom e que ainda por cima
fez todas as mulheres do Brasil serem Regina
naquele instante mágico e imortal.
Texto de Artur da Távola. Recebi
de
"Cristina S. Gonçalves".
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Última alteração: 13 mai 2007