Coréia / Japão - 2002

O sorriso do Cafu


Fico com teu sorriso de menino, Cafu, quando fizeste pódio do pedestal que
sustentava a Copa e lá bem alto, após declarar amor à Regina, tua mulher,
disseste ao mundo o que é o Brasil.

Aquele sorriso, Cafu, trouxe a criança pobre do Brasil, o menino do interior,
atiradeira no bolso de trás, a brincadeira liberta e solta.

Ele traduzia ingenuidade, timidez, pureza de coração, nenhuma arrogância
e uma categoria um piso acima da alegria: a felicidade.

Pouca gente sabe rir, Cafu. Pouca.

Já reparaste que há risos que não riem e sorrisos que dissimulam?

Quando o riso é bonito, sem superioridade nem agressividade,
é porque a pessoa também o é. Só os bons comovem pelo sorriso.

Mas naquele teu sorriso infantil e brando, feliz e simples, estava, também,
a vitória do homem mestiço do Brasil, argamassa da brasilidade,
tantas vezes discriminado mas nem por isso vencido ou ressentido.

Estavam todos os meninos mulatos e pardos deste país,
estavam os branquinhos também
e até os curumins, meninos indígenas que desde cedo
aprendem a amargura de viver fora de seu universo cultural.

De todas as comemorações de domingo, cheias de verde e tropicalismo,
ficou no espírito deste velho cronista,
que desde 1950 acompanha as Copas do Mundo,
o teu sorriso, Cafu.

Que Deus o abençoe!

A inocência morava nele, e com ela,
a simplicidade, a operosidade do trabalhador brasileiro,
mal pago e construtor do País,
a felicidade das consciências livres do medo,
a pertinácia do povo e algo fundamental:
a confiança no futuro do Brasil.

No teu sorriso, Cafu, riram todos os que sonham;
os que fazem da luta honesta as suas vidas;
os que vêm de dentro do Brasil para tentar a vida;
os humildes elevados à condição de soberanos de algo,
um esporte, uma arte, a política, a ciência, o trabalho e até o carnaval.

No teu sorriso estavam todas as tuas corridas pelo flanco e pelo centro,
tua indormida vigilância,
a molecada linda lá da Vila Irene e de todas as Vilas Irenes
que existem como moradias honradas e pobres espalhadas pelo Brasil.

Estavam a alegria de teu futebol leve
e a representação do que este País tem de melhor: o seu povo.

Sorriso inocente e bom e que ainda por cima
fez todas as mulheres do Brasil serem Regina
naquele instante mágico e imortal.







E vamos pro Hexa!



Texto de Artur da Távola. Recebi de "Cristina S. Gonçalves".





Os arquivos de textos, imagens e de músicas utilizados
foram recebidos por e-mail ao longo dos últimos anos.
Desconheço a existência de quaisquer restrições ao seu uso não comercial.
Se julgar necessário solicito ao detentor de direitos autorais entrar em contato.


Comentários ou sugestões? Clique .

Você deseja enviar essa página?


Copie o endereço abaixo.
http://fabelem.webng.com/cartao/fut-pen5.html

Cole-o no campo de texto.

Preencha o endereço do destinatário.
E pode acrescentar o que quiser.


Última alteração: 13 mai 2007